quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

De mim 28.12.2011

Como li mesmo agora
eu também só falo
do que eu sei
e o que eu sei
é de mim.
A minha terra sou eu também.
Por mais mundos que haja
o que eu escrevo
não é nunca adverso
a essa terra porque
sou eu que a conto.
Sendo assim
há coisas que poderiam ser fáceis de aceitar
mas não são.
Sendo assim poderia não me importar.
Mas importo.
Todavia sorrio sempre que escrevo.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Egipto num poema (até agora...) 28.12.2011

Estive no Egipto quinze dias e até agora a única coisa que consegui escrever foi este poema:

'Cobertos de pó
estão os meus pés
de caminhar por estradas
feitas de areia e terra.
De um lado castanhos
Mouriscos
cremes beiges dunas.
Do outro
verdes frescos
canas de açúcar
escondendo por detrás
o Nilo
tranquilo e calmo.'

Falo escrevendo 27.12.2011

Falo escrevendo
não por portas que se abrem
mas que empurro
questiono constantemente
mais do que devia
mais do que queria
se cada segredo contado
criará uma liberdade sentida
partilhada
ou uma frase feita
e um já sabia?

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Gâmbia Nov.Dez 2011

Dia 27 de Novembro de 2011 rumo ao aeroporto de Gatwick em Londres para apanhar o avião que nos iria levar a Banjul, capital da Gâmbia.

Confesso que pouco sabia da Gâmbia, para além da sua peculiar localização geográfica rodeada pelo Senegal, um pouco como Portugal está pela Espanha. Logo desde aí senti uma afinidade com esse país.

Como sempre que viajo informei-me de qual é o desporto mais popular do país para onde vou viajar, no caso da Gâmbia é o wrestling, parecido com a luta greco-romana que costumo ver nos Jogos Olímpicos. Não me causou grande entusiasmo, mas fui com intenções de ver um combate. Nada me preparou para a total loucura que é, não o wrestling, mas o futebol na Gâmbia.

Desde o primeiro momento que eram evidentes os sinais de que este país, descripto pelos locais como a língua da boca que é o Senegal e a costa sorridente de África, está recheado de emoções futebolísticas.

Passeando pelo Albert Market na capital, Banjul (com pouco mais de 50000 habitantes) aqui e ali eram notórios e impossíveis de ignorar os sinais de amor ao futebol. Desde a loja de esquina chamada ‘Real Madrid Car Batteries’ até ao constante graffitti de nomes de jogadores em cada recanto. Saindo de Banjul a caminho de Bakau (a Norte da capital) numa caminhada que durou pelo menos umas duas horas até que chegámos à Kachikali Crocodile Sacred Pool, não sem antes passar pelo campo de futebol local onde estava a decorrer um treino. Chamou-me a atenção o sinal à porta do campo (ver foto) e o facto de o treino incluir tanto rapazes como raparigas.

imageFoto por Filipa Miranda (Banjul)



Da primeira vez que vi escrito a giz na parede de uma loja os calendários dos jogos da Liga Inglesa e Espanhola fiquei abismada.

Mais abismada fiquei quando numa das primeiras manhãs solarengas na Gâmbia saio da pousada onde ficámos, chamada Banana Village em Kololi, na costa Atlântica e vi escrito a giz Manchester-United Benfica 22 Nov 7h45. Não resisti! Eu sabia que havia uma razão pela qual eu tinha levado o cachecol do Benfica comigo...

imageFoto por Carolina Garcia (Kololi)



Tirei fotos, muitas. Mal sabia eu que essa foto se iria repetir vezes sem conta em todos os cantos do país por onde passámos.

Perguntei e contaram-me que estes lugares com os jogos escritos na parede chamam-se ‘videoclube’, um estabelecimento com antena parabólica onde é possível ver os jogos de futebol. A entrada para o videoclube é de 5 Dalasi (1 Dalasi = 0.03 Euros), mas se fôr um jogo dito grande, estilo um Real Madrid-Barcelona, aí os preços podem subir até aos 25 Dalasi.

Mais ou menos o mesmo esquema de quando eu vou ao café Sintra em Londres, mas em vez de pagar entrada, pago em Super Bock ou Sagres. Sim, porque os tremoços são de graça.

Metade da população e, perdoem-me o exagero, tem vestida uma camisola de futebol. Barcelona sendo a equipa favorita. Julgo que em Tanji, um centro pescatório na costa africana, estava lá a equipa inteira da equipa Catalã. Vi pelo menos dois ‘Pedros’, dois ‘David Villa, um ‘Piqué’, um ‘Iniesta’ e muito provavelmente um ‘Messi’. Para além de aficionados do Barcelona, havia meio plantel do Chelsea e Manchester United e... uma camisola vermelha com o número 23 nas costas e ‘Miguel’ escrito a branco... tempos de quando, o agora lateral direito do Valência, jogava no Benfica.

imageFoto por Filipa Miranda (Tanji)



imageFoto por Carolina Garcia (Tanji)



Mas para estes ‘jogadores’ a táctica não é um 4-4-2, mas outra. Passo a explicar: os pescadores chegam da sua pesca diária e, no que posso apenas descrever como um caos altamente organizado (caos para quem como eu neste momento ainda não conhecia a organização pescatória em Tanji), senhoras correm mar adentro negociando com os pescadores o preço do peixe. Disseram-me que, apesar da correria para comprar o melhor peixe, os pescadores concordam entre si preços fixos de venda do seu peixe para não causar desigualdades. Essas senhoras levam o peixe em alguidares de plástico na cabeça até à areia onde estão à espera rapazes com “carrinhos” que, por um preço acordado, carregam o peixe até ao mercado. Envoltas nesta dança estão crianças que correm atrás das senhoras à espera de algum peixe que caia do alto das suas cabeças à areia, agarrando-o para posteriormente o venderem ou quem sabe o cozinharem.


À volta do mercado há senhoras sentadas no chão a arranjar o peixe que posteriormente será fumado ou seco ao sol para ser vendido e exportado.


Deste pequeno, mas altamente funcional centro pescatório, é importado peixe não só para países vizinhos como Senegal e Guiné, mas foi-me dito também para a Holanda, a Bélgica, entre muitos outros países. Camiões de toda a parte vêm a Tanji comprar peixe para depois o importarem. Todas as paredes em Tanji tinham escrito nomes de jogadores de futebol, desde Kaká a Drogba, passando claro por Ronaldo e Messi. Chamou-me a atenção a entrada para um dos lugares onde o peixe está a secar que dizia ‘Welcome to Old Trafford’, para quem não sabe esse é o nome do estádio do Manchester United.


imageFoto por Filipa Miranda (Tanji)



Depois de Tanji fomos para Brikama, que fica no interior da Gâmbia e é uma das maiores cidades da Gâmbia, a par da capital Banjul e Serekunda.

Passámos por um estádio de futebol e reparei que havia um jogo a decorrer. Met, o nosso simpático guia do dia em Brikama, explicou-me que há jogos todos os dias e há sempre casa cheia. Há muita a esperança de que de uma destaslLigas amadoras saia um jogador, ao estilo do Didier Drogba da Costa do Marfim, para um grande Europeu. Disseram-me que olheiros de clubes europeus já passaram por aqui.

imageFoto por Filipa Miranda (Brikama)



Pela minha cara de entusiasmo o Met deve ter reparado que eu queria entrar e ver o jogo. Resisti, mais por vergonha do que por vontade, mas lá acedi e arrastei comigo o resto da comitiva até ao interior do campo. O Met comprou os bilhetes (25 Dalasi cada um) e entrámos. Como em qualquer jogo de futebol havia duas claques em lados opostos da bancada, mas desta vez as claques não eram compostas por rapazes de tronco nú a gritar, mas sim por uma maioria feminina tocando tambores e djambés. Foi uma experiência. Futebol é futebol em qualquer lado, desperta emoções. O relvado sintético era de alta qualidade. As equipas... bem, digamos que ainda não é destas equipas que sai daqui o próximo craque para o Benfica. Curioso foi ver as equipas ao intervalo a rezar, uma delas alinhada na linha de golo (a Gâmbia é um país predominantemente Muçulmano) e o árbitro ser escoltado ao intervalo por não um, não dois, mas três polícias! Na Gâmbia, como dizem os locais ‘No Problem’, mas parece que aqui como em qualquer lado os árbitros precisam de uma atenção especial...

Por detrás de uma das balizas está a chamada zona ‘Democracia’ onde as pessoas são livres de dizerem o que querem..., alguns espectadores pendurados nas árvores para uma melhor “visão de jogo”. Há também muitas crianças com tabuleiros na cabeça vendendo pacotes de água de 500ml a 2 Dalasi cada ou pacotinhos de sumo quase em gelo a 1 Dalasi cada. Durante o jogo comprámos também uma batata doce gigante cozida (branca por dentro, não laranja como as conhecia até então).

Claro que os meus olhos portugueses repararam numa camisola azul com ‘Deco’ escrito nas costas que cobria um menino com uns 8 anos, sempre muito atento ao jogo.

imageFoto por Carolina Garcia (Brikama)



imageFoto por Filipa Miranda (Brikama)



De Brikama voltámos para Sanyang onde estávamos a ficar na Paradise Beach, a 3km da vila. A praia fez jus ao nome, foi realmente a melhor praia onde estivemos na Gâmbia. Um areal imenso quase só para nós e 35 graus (no mínimo) servindo de cenário a um dia de mãos dadas com a preguiça.


De Sanyang fomos até Kartung no Sul da Gâmbia, mesmo na fronteira com Cassamance (já pertencente ao Senegal).


imageFoto por Filipa Miranda (Kartung)



A viagem, como todas, foi feita num gelli-gelli com paragem para trocar de veículo em Gunjur. Gelli-gelli são autocarros de 25 lugares que andam entre cidades, vilas, aldeias e paam conforme alguém na estrada os manda parar. Há um condutor e um rapaz que recolhe o dinheiro e, que vai gritando a quem passa, o destino do autocarro. Se o destino coincidir com o da pessoa à beira da estrada, o gelli-gelli pára e lá entra mais um passageiro. Mais pequeno que o gelli-gelli são os sept-place, traduzido de francês ‘sete lugares’, que funcionam com o mesmo sistema. Entre os muitos companheiros de viagem de gelli-gelli háa salientar uma senhora com uma galinha (viva claro), senhoras com impecáveis vestimentas coloridas e uma senhora com dois bebés gémeos, uma menina e um menino, de 4 meses.

Em Gunjur informaram-nos que tinhamos acabado de perder o gelli-gelli para Kartung, mas que o próximo não tardaria muito... Aqui os autocarros só arrancam quando estão cheios. Não há lugar a desperdícios. Bem, passadas duas horas de espera, onde deu para comer um arroz com peixe típico da Gâmbia, lá chegámos a Kartung que não fica a mais de meia hora de Gunjur. As duas horas de espera foram épicas. Um rapaz sorridente do Senegal lá meteu conversa connosco e ajudou-me a ir comprar o almoço. Sorridente estava eu agora carregando o meu prato de metal cheio de arroz e peixe frito, comendo as duas sentadas num tronco de uma árvore à espera e à espera e à espera... Também deu para praticar o meu francês. Claro que este rapaz tinha uma camisola de futebol vestida, desta vez do Marselha.

Em Kartung não faltou o ’videoclub’, uma criança com uma camisola do Cristiano Ronaldo vestida e o fascínio das crianças com a máquina fotográfica (fartaram-se de tirar fotos uns aos outros enquanto esperávamos por mais um gelli-gelli).

imageFoto por Carolina Garcia (Kartung)



imageFoto por Filipa Miranda (Kartung)



De Kartung fomos para Lamin junto ao rio e enquanto descansávamos junto a uma lojita bebendo água e uma fanta de laranja (a minha nova bebida preferida) e comendo amendoins vi o inevitável- um menino com uma camisola de Portugal vestida. Fiz-lhe sinal de que gostava muito da sua camisola, deu-me um sorriso largo e claro tirámos uma foto.

imageFoto por Carolina Garcia (Lamin)



Para a última noite decidimos voltar a Paradise Beach, em Sanyang onde no Domingo tivemos oportunidade de assistir a um combate típico de wrestling. Duas ‘equipas’ distintas combatem, dois de cada vez por idades, começam os mais novos seguidos dos mais velhos. Antes de cada luta há uma dança e cada ‘equipa’ tem uma claque muito animada com cânticos e tambores.

imageFoto por Carolina Garcia (Paradise Beach,Sanyang)



Não podia terminar esta viagem a este país apaixonado pelo futebol sem lhes mostrar com quem o Cristiano Ronaldo aprendeu a jogar à bola...

imageFoto por Carolina Garcia (Paradise Beach,Sanyang)

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Cobertos de pó 14.12.2011

Cobertos de pó
estão os meus pés
de caminhar por estradas
feitas de areia e terra.
De um lado castanhos
Mouriscos
cremes beiges dunas.
Do outro
verdes frescos
canas de açúcar
escondendo por detrás
o Nilo
tranquilo e calmo.