domingo, 18 de novembro de 2012

Resinas 18.11.2012



Para construir
preciso de ajuda
de um fado que já está escrito
mas que pode
perfeitamente
criar um isto
um aquilo
neste coração e neste papel
num bairro
de Lisboa.
Traz-me meras palavras
resinas
sílabas
enquanto procuro uma frase perfeita.



sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Depois do Verão 26.09.2012



Foram-se as filas
ficou o espaço
físico.
Ficaram as praias
a pedir corpos.
Há esta sensação de que
a terra
e os que cá nasceram
fizeram as pazes.
Fica esta sensação de que
um mar que a ninguém pertence
foi devolvido
aos seus,
quando um mês antes
era apenas emprestado
como um sol generoso.


Nunca tive 16.11.2012

Nunca tive
que procurar palavras
senão sinónimos
reprodução de um
mesmo significado
mar, repito mar
é quem manda
tu senão
no meu coração

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Agora esquece 15.11.2012



Agora esquece
faz esse favor
a quem sempre disse
que quem é
pode não ser quem foi
mas também.
Este enleio
de amor
opulência de
certezas
é hoje
como tem sido
cada vez mais
um pronunciar de sentimentos
entre nós

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Para lá, para cá 09.11.2012

Algarve. 09.11.2012

Para lá, para cá.

Para lá, para cá. Faz mala. Desfaz mala. Porque será que me é mais fácil fazer malas, mas tão difícil desfazê-las? Será porque sei que nunca vou ficar muito tempo nesse sítio. Já cheguei de carro, de avião, de comboio e agora de autocarro. O que foi que aconteceu? Às vezes na vida tornamo-nos bons em muitas coisas fruto das circunstâncias. No meu caso, fazer malas, memorizar horários de transportes públicos, ligar para companhia de água, telefone, electricidade a cancelar e abrir contas, são tudo especialidades minhas. Às vezes dizem que de um hobby surge uma profissão, mas neste caso não é hobby, nem profissão, é a vida mesmo e os pormenores que a transformam numa rotina funcional. De cada vez que faço uma mala, seja para dois dias ou quatro meses ouço os acordes de uma guitarra portuguesa que dão início a um qualquer fado. Aquele arranque que vira bater de coração que marca o ritmo antes da voz. A voz, essa não sei o que é, e o poema que dita será talvez mais uma viagem, mais um destino. Detesto desfazer malas. Prefiro escrever poemas. É brando este sentimento de consultar dicionários, livros Pessoanos, poemas lusitanos, poemas de Sophia sobre o mar. É sempre ingénua a descoberta de mais uma palavra desta nossa língua. O que fica são as palavras. Dizem que as palavras leva-as o vento, mas as que escrevo ficam para sempre. As figuras de estilo encontram um sentido seu muito próprio que me ajudam nesta eternidade. Olho e a minha mala ainda ali está, por arrumar. Não custa nada bem sei, mas agora que cheguei qual a pressa? Esta semana já foram muitos os até já, os até logo, os até ao Natal. Eu sei o que quero. Sei em que direcção vou. Não tolero menos. E talvez por isso surjam impaciências muitas vezes desnecessárias. A escrita deixa-me pensar e viver, através do que escrevo, todos os sentimentos de um coração. Creio que se não fosse a escrita viveria tudo com muito mais ansiedade. A escrita permite sentir-me triste e logo a seguir feliz. A escrita transforma. E através de um coração que, às vezes, mais parece um acordeão de tanto que balança, a inquietude descansa e deixa-me funcionar. Qualquer sentimento já desfeito pode ser facilmente reposto quando escrevo e qualquer sentimento ainda não vivido, pode ser criado quando se juntam sílabas que nem lábios. Nasce uma cor e também uma ausência que adormece e desperta sempre um amor em mim. Porque será que não gosto de desfazer malas? É possível cansarmo-nos de uma vida que escolhemos? Hoje, olhando pela janela parece que o sol se pôs mesmo antes de nascer. O céu está cinzento azulado, um dia perfeito pois para arrumar a mala…