terça-feira, 31 de maio de 2011

Sensação na pele 17.04.2011 e 31.05.2011

Esta sensação na pele
é algo que não esqueço.
Há outras coisas que também
não esqueço
como os teus braços à minha volta
Há sentimentos como a tua boca a
tocar-me o pescoço enquanto me abraças
que também não me esqueço.
Não sei se te beijo de volta
ou se deixo
o meu rosto enrolado no teu ombro.
Procuro que o meu rosto se enterre
no teu ombro
um pouco mais
aceitando o óbvio.
O teu rosto é imagem que sei de cor.
De cor sei também
as cores do teu corpo
sei o moreno mais escuro e
sei o moreno mais tímido.
Tudo me diz o mesmo.

Lua de mel 31.05.2011

Lua de mel
Lume do agora
Confesso que nao estava preparada para isso
ou estava?
Não sei quando me comecei a sentir assim
quando comecei a falar no isso
no isso tudo e muito mais
Esse isso que não sei
quando interrompeu a tranquila
virtude
Virou amor translúcido
Virou dois corpos por onde passa a luz,
mas sem se ver com nitidez
os sentimentos ecos
que estão para além

Agora é assim
sorriso feito

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Não há razão maior 25.05.2011

Não há razão maior
do que uma certeza absoluta
vinda de dentro.
Esse teu amor
declarado
tímido e
assinado por beijos.
É um talento,
um conjunto de aptidões
disfarçadas de senões
que condicionam o êxito
deste
amor
onde duas pessoas
sobressaem numa assembleia
espontânea
e elegante.
Esquece o que soubemos
e vive o que sentimos.
Diáspora dum passado
onde não estivemos as duas.

Flor de maracujá
Flor de lótus

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Parece que fico 23.05.2011

Às vezes
parece que fico
com o coração laminado.
Não protegido
por um qualquer material
transparente,
mas
reduzido
a uma espessura
lisa de emoções.
Sim sinto-o esmagado.
Protege-se.
Fica além.
Dói-me.
Mas
rapidamente
volta para mim
cheio.

A solitude 19/23.05.2011

A solitude
essa estará sempre aqui
porque a busca
das palavras que preciso
para me fazer entender
é uma busca
solitária
e narcísica.
Escrevo para que a minha mente
não se afogue.
Escrevo para que o silêncio
seja interdito.

domingo, 22 de maio de 2011

Minha vida 22.05.2011

A minha vida não espera
pelas minhas
faltas.
Não fica de braços cruzados
que nem falsa partida
à espera dum sim
até agora ausente.
Abro o silêncio,
em vez de o fechar.
Quero dizer presente
à coragem
e, trazer-te comigo.
Mas
limpa de culpas e
com o coração
que nem um fósforo
meio gasto meio por usar
sigo
caminho
em frente
Vens?

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Parece-me justificada 18.05.2011

Parece-me justificada
a transparência
do que sinto.
Sou tão mais segura
daquilo que sou
quando paro de buscar
em ti as respostas.
Encho o quarto
com alusões,
referências vagas areias
comforto alívio
certezas.
Vais e voltas
e vais e voltas.
Agora eu,
cá dentro,
terei sempre que me encontrar.

terça-feira, 17 de maio de 2011

A certeza 17.05.2011

A certeza que me coloco
é simples
agora que a dúvida
me deixou de
fazer perguntas.
Essa dúvida,
que nem uma onda,
sempre foi
transitória breve vagante.
A saudade repete-se em mim
mas, desta vez,
encerra a anomalia
inerente ao medo de perder.
Sabes que sim.

Sinto-o fortemente.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Inquietude 16.05.2011

Inquietude
púrpura coragem
calço essa inquietude
como um quinto sentido
vejo ouço
constantemente
o batuque
dessa insatisfação
doce que nem
água
adversa ao mar

domingo, 15 de maio de 2011

Distância 15.05.2011

A distância entre mim
e o equador
deste amor
é
irrelevante.
És tu
quem tem
entrada directa,
és tu
quem sopra
pela válvula desse fole
beijos ternuras
colando
a tua mão à minha.

sábado, 14 de maio de 2011

Estendida 13/14.05.2011

Estendida paralela ao mar
faço fintas
ao querer ir.
Penso no que é nosso,
enfio a mão dentro desse amor
e quero ficar.
Desculpa se te marco o pensamento
mas é constante esta ousadia
de querer ser quem sou
contigo, e
com mais ninguém.
É branca a lucidez
e presente
esta qualidade de brilho.
Como se consegue
aquilo que é difícil de alcançar?
Estendida paralela ao mar
contigo entrelaçada
neste meu coração.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Ousadia 13.05.2011

Ouso dizer que não tem sentido algum
passar por essa rua,
sem ser de mão dada
com o teu amor por mim.
Essa rua, anterior, ultrapassada
desenhada por um nada.
Essa rua
agora sustentada por uma tentação.
É frágil, inócua
mas dedicada
essa tentação de não largar
a tua mão,
essa teimosia que não deixa cair
o meu coração aberto
órgão musculoso
voz secreta
cerne de um sentido.
Será uma ousadia
este meu querer?

Uníssono 13.05.2011

Há um uníssono cá dentro
uma entonação neste
nosso sentir.
Vozes concordantes
pés cheios de coisas
ponteiros esclarecidos.
Sentes tu também
este uníssono?

terça-feira, 10 de maio de 2011

Poema do sal 10.05.2011

A tua beleza
expõe aquilo que não está bem.
Antes de ti
o sal do mar chegava,
depois de ti
um mergulho não é mais
do que um trapézio
e o sal que me seca
insuficiente

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Chão curvado pelo futebol 06.05.2011

Chão curvo ingrato. Sim, chão curvo ingrato. Ontem por volta das onze e meia estava eu a sair do café Sintra onde eu vou sempre ver o espectáculo de que tanto gosto e senti os meus passos pesados. Caminhei como sempre o faço até à paragem de um qualquer autocarro que me levasse a casa. Andei com passos quebrados, olhos presos no chão, olhos por vezes orgulhosamente levantando o olhar como que quebrando a desilusão sentida. Acho que todos os que me conhecem sabem de que desilusão estou a falar. Não vos conto ainda porque este conto poderia ser qualquer outra coisa. Nao quero que tomem já uma decisão na vossa cabeça, leiam primeiro. Visto esta loucura como um corpo desenhado por mim, e como diz a Mariza ‘bendita esta loucura de cantar e de sofrer’, mas desta vez uma loucura envergonhada do que aconteceu ontem. O meu pai lembrou-me que eles, os protagonistas, também queriam que o desfecho tivesse sido outro, também queriam ter chorado uma chuva de alegria, mas os ventos e os troncos de árvores rígidos disfarçados de postes, assim não o quiseram. Os postes, tal como as árvores, pareciam ter séculos de existência, instransponíveis na sua teimosia. Como que dizendo ‘eu estava aqui primeiro’.
Hoje venho ver a Mariza, fadista como todos sabem. Dizem-me que o fado é triste, mas agora (meia hora antes do concerto começar) estou feliz e ontem triste fiquei. Ontem o espectáculo foi outro. Será este o meu Fado, o de sofrer por coisas que outros sopram para o lado, passados cinco minutos de terem acontecido? O Fado era suposto ser hoje cantado pela Mariza, mas afinal foi ontem desgarradamente exibido por vozes roucas de norte. Foi um Fado desafinado, onde os solos de guitarra do senhor da camisola 30 nunca encontraram os acordes perfeitos. Os seus arranques de bola colada ao pé que nem palheta nas mãos de Carlos Paredes foram lentos e as palmas com que acompanhámos esses acordes foram sempre mais entusiasmantes que a música a que assistimos. As minhas mãos ontem quando se juntavam, antevendo palmas, acabavam sempre por fugir para a minha cara e cobrindo-la, esfregando os meus olhos e franzindo a minha testa, enrrugada por linhas que gritavam desilusão.
E eu que gosto tanto do senhor da camisola 30. Se calhar, que nem Pedro e Inês, esse senhor sentiu falta do outro. Do senhor da camisola 10. Ora a este chamam-lhe ‘O Mago’ e alguém assim é famoso por tirar coelhos da cartola. O coelho, ‘El Conejo’, estava lá mas escondido porque ‘O Mago’ ficou com o seu baralho de truques no banco. Sem culpa. Sem nada. Sem nada ficámos nós. À minha volta, uns vestindo os seus casacos de fúria e envoltos em cachecóis cozidos de dor foram logo para casa, outros na sua habitual tranquilidade rapidamente mudaram de assunto para a crise e o plano da Troika e do FMI e, eu e outro ficámos ali. Mãos na cara, rosto escondido, mão buscando troco no bolso para pagar a imperial e a meia de leite que sabiam agora a um nada. Ficámos ali porque sabíamos que uma derrota assim agarra-se a nós e entranha-se como areia. A areia não sai de um dia para o outro. Esconde-se e, eu querendo livrar-me dos grãos de tristeza, peguei no meu coração e comecei a falar sobre o jogo. Falei sobre cada jogador, sobre o treinador, sobre o Presidente, falei até ter a certeza de que não tinha mais nada para dizer.
Voltei a pegar no meu coração, pu-lo no sítio e caminhei. Paguei a conta acho eu. Caminhei até à paragem de autocarro e fui para casa.
Hoje estou aqui e vou ver a Mariza daqui a quinze minutos.
A bendita loucura esta noite é outra e o meu Fado espero que diferente...