sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Para lá, para cá 09.11.2012

Algarve. 09.11.2012

Para lá, para cá.

Para lá, para cá. Faz mala. Desfaz mala. Porque será que me é mais fácil fazer malas, mas tão difícil desfazê-las? Será porque sei que nunca vou ficar muito tempo nesse sítio. Já cheguei de carro, de avião, de comboio e agora de autocarro. O que foi que aconteceu? Às vezes na vida tornamo-nos bons em muitas coisas fruto das circunstâncias. No meu caso, fazer malas, memorizar horários de transportes públicos, ligar para companhia de água, telefone, electricidade a cancelar e abrir contas, são tudo especialidades minhas. Às vezes dizem que de um hobby surge uma profissão, mas neste caso não é hobby, nem profissão, é a vida mesmo e os pormenores que a transformam numa rotina funcional. De cada vez que faço uma mala, seja para dois dias ou quatro meses ouço os acordes de uma guitarra portuguesa que dão início a um qualquer fado. Aquele arranque que vira bater de coração que marca o ritmo antes da voz. A voz, essa não sei o que é, e o poema que dita será talvez mais uma viagem, mais um destino. Detesto desfazer malas. Prefiro escrever poemas. É brando este sentimento de consultar dicionários, livros Pessoanos, poemas lusitanos, poemas de Sophia sobre o mar. É sempre ingénua a descoberta de mais uma palavra desta nossa língua. O que fica são as palavras. Dizem que as palavras leva-as o vento, mas as que escrevo ficam para sempre. As figuras de estilo encontram um sentido seu muito próprio que me ajudam nesta eternidade. Olho e a minha mala ainda ali está, por arrumar. Não custa nada bem sei, mas agora que cheguei qual a pressa? Esta semana já foram muitos os até já, os até logo, os até ao Natal. Eu sei o que quero. Sei em que direcção vou. Não tolero menos. E talvez por isso surjam impaciências muitas vezes desnecessárias. A escrita deixa-me pensar e viver, através do que escrevo, todos os sentimentos de um coração. Creio que se não fosse a escrita viveria tudo com muito mais ansiedade. A escrita permite sentir-me triste e logo a seguir feliz. A escrita transforma. E através de um coração que, às vezes, mais parece um acordeão de tanto que balança, a inquietude descansa e deixa-me funcionar. Qualquer sentimento já desfeito pode ser facilmente reposto quando escrevo e qualquer sentimento ainda não vivido, pode ser criado quando se juntam sílabas que nem lábios. Nasce uma cor e também uma ausência que adormece e desperta sempre um amor em mim. Porque será que não gosto de desfazer malas? É possível cansarmo-nos de uma vida que escolhemos? Hoje, olhando pela janela parece que o sol se pôs mesmo antes de nascer. O céu está cinzento azulado, um dia perfeito pois para arrumar a mala…

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