Li hoje que quando acordamos a boca
sabe a folha de papel, normalmente escuto dizer que sabe a sapato. Sabe ao que
nós quisermos. Não sei se será melhor escrever antes de ir trabalhar ou depois
de sair. Antes é como se tivesse todo um dia pela frente ainda por acontecer,
como se o trabalho fosse o evento dominante do dia. Normalmente é, porque nos rouba,
às vezes empresta, oito horas e meia em vinte e quatro. É essencial quando
escrevo pensar em qual é o tema das minhas palavras. Muitas vezes preocupo-me
mais com a pontuação ou falta dela. Preocupo-me com a escolha de palavras e
confesso sentir uma certa obsessão por sinónimos. Busco-os, para que a minha
linguagem simples não se torne repetitiva. O amor é o amor, a amizade é a
amizade. Haverá sinónimos para sentimentos? Ou explicações? Traduções?
Palpitações? No fundo nada significa nada senão a próxima palavra. A anterior
já foi, já foi escolhida, escrita, lida e o que a torna intemporal? O que torna
o que escrevo intemporal? O que a torna actual se já foi ultrapassada por
outras sílabas? O que torna este sentimento intemporal? Esta atitude? Vontade?
Quando acordamos o mundo sabe a novo. E talvez um bocadinho a folha de papel e
sapato.
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