quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Carlitos ‘El Apache’ Tevez 07.09.2011

Carlos Tevez é um jogador de futebol que admitiu esta semana ter sofrido uma depressão, o que levou a que tenha engordado cinco quilos.
Ora aquilo que um adepto não perdoa é ver um jogador com quilos a mais. De repente, é aceitável apelidar um jogador de ‘gordo’ e dizer-lhe isso na cara. Torna-se aceitável que mais de cinquenta mil pessoas gritem durante uma partida ‘gordo! gordo! gordo!’. Outra coisa imperdoável, do ponto de vista do adepto, é um jogador conceituado, de renome, que ganhe muito dinheiro, falhar um penalty. Ainda para mais falhar um penalty ao serviço da selecção do seu país numa competição internacional.
Quem segue futebol sabe perfeitamente que as exigências do país onde nascemos correm paralelas às exigências da nossa família.
Não tem nada a ver com o que é esperado desse jogador no clube onde joga. Aliás, piora e em muito a situação do jogador se ele marcar muitos golos pelo seu clube, mas nenhum pelo seu país.
Ora tudo isto aconteceu a Carlitos Tevez, o ídolo argentino, na última Copa América.
O mesmo Tevez que, ousou anunciar ao mundo que não gostava de viver em Manchester, onde ganha mais de duzentas mil libras por semana e que queria mudar de clube. Queria mudar para estar mais perto das suas duas filhas pequenas que não se adaptaram a viver em Manchester.
Confesso que tenho sentimentos contraditórios em relacção a este caso, talvez por ser uma grande fã de Carlitos Tevez desde os seus tempos no Boca Juniors e depois no Corinthians.
A um atleta que ganha tamanha fatia de libras exige-se-lhe que faça a sua parte, isto é, que vá aos treinos, que jogue bem, que marque golos. Ora o jogador argentino faz isto tudo. Mas também se exige que faça isto tudo com um sorriso nos lábios dentro e fora do campo, sem nunca se queixar. Tevez cometeu o erro fatal de se queixar. E de ‘barriga cheia’ como se costuma dizer. Mas se o dinheiro não traz felicidade, que relevância tem o Carlitos ganhar mais de duzentas mil libras por semana em relação à sua felicidade? Aqui é que eu fico um pouco confusa.
No outro dia li que a dor resolve-se sozinha, mas para sentir por completo o valor da felicidade há que ter alguém com quem a partilhar. O argumento do Tevez é que a sua família não quer viver em Manchester, donde se conclui que a sua alegria não é partilhada, logo não vivida por completo.
Não é preciso ter viajado muito para se saber que Manchester é totalmente diferente da Argentina ou de um país do sul da Europa. Em Manchester chove muito, faz muito frio, as lojas e cafés fecham cedo e não há muito que fazer. Mas há um clube disposto a pagar aos seus jogadores mais de duzentas mil libras por semana.
Em que ficamos então? Gostamos de estar em Manchester ou não?
Não acredito que haja muitas pessoas que digam que não a viver por uns anos em tais ‘condições’ ganhando tamanho ordenado...?
A questão é que as pessoas com empregos chamados ‘normais’ não têm o luxo da escolha, sacrificam-se por uma oportunidade única. Mas o Tevez tem com certeza muitas escolhas. Escolheu Manchester… outra vez! Já lá vivia quando assinou este segundo contracto. Mas, depois dada a profissão que tem, outras escolhas surgiram.
Não me quero concentrar no seu ordenado, mas sim na pessoa, no jogador.
Carlos Tevez nunca defraudou ninguém enquanto jogador. Dentro do campo um ídolo. Guerreiro, talentoso, goleador. Alegre. Dançarino.
Às vezes penso no que lhe passará pela cabeça. Talvez um misto de arrogância e ingenuidade. Há muita verdade e honestidade nos seus dribles e remates, nos seus passes e correrias, na sua forma de jogar.
Tal como houve honestidade ao admitir que sofreu uma depressão. Não me lembro de um jogador de futebol falar tão abertamente do que sente realmente. A depressão é ainda um assunto tabu no meio desportivo. Ora veja-se o caso da Vanessa Fernandes, ainda por explicar.
Quem é honesto tem que estar preparado para que as massas aplaudam, mas para que critiquem também.
No dia que vir Carlitos Tevez jogar mal começarei a acreditar que sim, que o dinheiro traz felicidade.
Até lá, viva el niño de Fuerte Apache!

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